Mais da metade das pessoas com diabetes não sabem que tem a doença
Imagine uma sala com 11 pessoas. Dessas, uma sofre com o diabetes. Agora amplie essa cena, pois essa hipótese é uma amostra da realidade mundial:
– São 415 milhões de pessoas com diabetes no mundo.
– Só no Brasil são 14 milhões, sendo que a metade ainda não foi diagnosticada.
Há uma multidão de pessoas que, a qualquer momento, irá descobrir a doença. Vamos falar mais sobre ela para você não ter mais dúvidas e estar pronto para ajudar outros com esse conhecimento.

O diabetes mellitus – ou simplesmente diabetes – é um grupo de doenças metabólicas caracterizadas por hiperglicemia (aumento da glicose no sangue), resultante de defeitos na secreção ou da ação da insulina, ou de ambos combinados.
O que o diabetes faz
A hiperglicemia a longo prazo, leva a complicações que atingem os olhos, os rins, o sistema nervoso, o coração e as artérias. São as complicações da doença que trazem maiores problemas para o indivíduo e impactam a saúde pública.
Quem é o profissional que trata o diabetes
O médico endocrinologista é o profissional mais qualificado para acompanhar a pessoa com diabetes. Em Curitiba e Paranaguá a Dra. Elisangela Cubas disponibiliza consultas particulares (link contatos), mas também há atendimento na rede pública.
Para consultar os especialistas de sua cidade acesse o site da Sociedade Brasileira de Endocrinologia: www.endocrino.org.br.
Tipos da doença
Tipo 1: Se manifesta na infância e adolescência ou em adultos jovens e atinge apenas 10% das pessoas. O pâncreas não produz insulina ou sua produção é insuficiente e o indivíduo precisa de injeções diárias de insulina. Deve-se controlar a glicemia (níveis de açúcar no sangue), a alimentação e fazer exercícios.
Tipo 2: Representa a grande maioria dos casos, mais de 90%. Pode se apresentar com poucos sintomas, ou mesmo ser assintomático. Ocorre tipicamente em pessoas com mais de 50 anos de idade, com sobrepeso, obesidade ou com histórico familiar da doença. Fique atento se na sua família há parentes de primeiro grau diagnosticados.
É possível prevenir?
O diabetes tipo 1 não pode ser prevenido, mas o tipo 2 é evitado com hábitos saudáveis, como alimentação balanceada e exercícios físicos frequentes.
Sinais e sintomas
- Elevação de açúcar no sangue;
- Aumento de volume urinário;
- Sede excessiva;
- Perda de peso;
- Fome exagerada;
- Visão turva;
- Sonolência,
- Náuseas;
- Infecções frequentes.
Esses sintomas podem se agravar se não houver acompanhamento com um endocrinologista.
Tratamento
O tratamento consiste em controlar os níveis de açúcar no sangue. A dieta adequada e atividades físicas regulares são fundamentais. Em muitos casos é necessário o uso de medicamentos, e até mesmo a aplicação da insulina.
Uma palavra de apoio
Se você já trata a doença, ou a descobriu agora, saiba que há diversos especialistas que ofertam tratamentos excelentes, grupos de apoios e também recursos para viver uma vida saudável e feliz. Não desanime, pois após se habituar à sua nova rotina de cuidados verá que o diabetes não é o fim, mas apenas uma nova forma de encarar a vida.
Existem outras formas de diabetes, menos comuns, onde a causa pode ser identificada. A apresentação clínica é muito variável.
Estão incluídos nessa categoria: os diabetes secundários (ao tratamento por alguns tipos de medicamentos, cirurgia ou doenças como pancreatite, hemocromatose, etc.) ou os diabetes “genéticos” (por exemplo, o MODY). Eles representam menos de 3% de todos os casos de diabetes.
– Defeitos genéticos na função das células beta (diabetes MODY – maturity onset diabetes in the Young)
– Defeitos genéticos na ação da insulina
– Doenças do pâncreas exócrino (pancreatite, trauma, cirurgia do pâncreas, neoplasia…)
– Induzidos por Outras doenças: endócrinas (acromegalia, síndrome de Cushing…), infecciosas (rubéola congênita, citomegalovírus…), hemocromatose.
– Induzidos por medicamentos (glcocorticóides, ácido nicotínico, antipsicóticos…)
O Diabetes gestacional representa qualquer grau de intolerância à glicose, com início ou diagnóstico durante a gestação. Geralmente é transitório, mas que pode persistir depois da gravidez. Assim como ocorre no diabetes mellitus tipo 2, o DM gestacional associa-se tanto à resistência à insulina quanto à diminuição da função das células beta do pâncreas.
As pacientes de alto risco e que na consulta inicial de pré-natal, no primeiro trimestre de gestação, já preenchem os critérios para dabetes fora da gestação são classificadas com tendo diabetes mellitus tipo 2 e não como diabetes gestacional.
As pacientes de alto risco e que na consulta inicial de pré-natal, no primeiro trimestre de gestação, já preenchem os critérios para dabetes fora da gestação
Ocorre em 1 a 14% de todas as gestações e pode estar associada ao aumento da morbidade e mortalidade perinatais. Por isso a importância da realização de um pré-natal adequado.
As mulheres que foram diagnosticadas com diabetes gestacional devem ser reavaliadas quatro a seis semanas após o parto. Na maioria dos casos há normalização da glicemia após a gravidez, porém essas mulheres tem um risco aumentado de desenvolver diabetes ao longo da vida, sendo necessária uma reavaliação anual.
Como é feito o diagnóstico do Diabetes mellitus?
Atualmente os três critérios aceitos para o diagnóstico são:
- Glicemia de jejum ≥ 126 mg/dl (jejum de 8 horas);
- Glicemia de 2 horas pós-sobrecarga de 75g de glicose ≥ 200mg/dl
- Pacientes com sintomas característicos da doença (poliúria, polidipsia e perda de peso) com glicemia realizada em qualquer horário do dia, independente da última refeição realizada, ≥ 200 mg/dl.
Refere-se a estados intermediários entre a glicemia normal e o Diabetes (glicemia de jejum alterada e tolerância à glicose diminuídos).
A categoria glicemia de jejum alterada está relacionada às concentrações de glicemia de jejum inferiores aos níveis de diagnóstico do diabetes, mas mais elevada que o valor de referência. A tolerância à glicose diminuída representa uma anormalidade na regulação da glicose diagnosticada no teste de tolerância à glicose (TOTG), o qual inclui a determinação da glicemia de jejum e de 2 horas após sobrecarga com 75g de glicose.
Glicemia de Jejum Alterada
- Glicemia de jejum > 100mg/dl e < 126 mg/dl;
Tolerância à glicose diminuída
- Glicemia 2 horas após sobrecarga de 75 g de glicose oral entre 140 mg/dl e 199 mg/dl.
Pode ser feita prevenção do início do diabetes, chamada de prevenção primária, ou prevenção das complicações agudas ou crônicas da doença, chamada de prevenção secundária.
A prevenção, seja ela primária ou secundária, significa mais atenção à saúde de modo eficaz. Deve ser o foco tanto do governo, profissionais de saúde e pacientes.
Prevenir o diabetes mellitus tipo 1 é difícil.
Para prevenir o diabetes mellitus tipo 2 deve-se alterar o estilo de vida, com ênfase na na mudança de hábitos alimentares e na prática de atividades físicas, particularmente em indivíduos com maior risco de desenvolver a doença.
- Idade acima de 45 anos;
- Parentes de primeiro grau (pais, irmãos) com diabetes;
- Sobrepeso ou obesidade
- Sedentarismo;
- Portadores de hipertensão arterial ou alterações dos níveis de colesterol e triglicerídeos;
- Histórico de infarto do miocárdio ou derrame (AVC);
- Mulheres com síndrome dos ovários policísticos;
- Mulheres que tiveram diabetes gestacional ou filhos nascidos com mais de 4 kg;
- Portadores de doenças mentais graves em uso de medicação (esquizofrenia, depressão, transtorno bipolar);
Exames prévios mostrando glicemia de jejum alterada ou intolerância à glicose
Quanto a prevenção secundária, há comprovações que o bom controle da glicemia tem função importante no combate ao surgimento ou à progressão das complicações.
Outras medidas importantes na prevenção secundária são:
- Tratamento da hipertensão arterial
- Redução do colesterol e triglicerídeos
- Evitar o consumo de bebidas alcóolicas
- Não fumar
- Prevenir o desenvolvimento de ulcerações nos pés através do uso de sapatos adequados e do cuidado diário com os pés
- Rastreamento para diagnóstico e tratamento precoce das principais complicações como retinopatia e nefropatia com a realização de consultas periódicas com oftalmologista e avaliação da microalbuminúria.
O tratamento do DM exige um profissional qualificado, de preferência um endocrinologista, uma vez que envolve desde o conhecimento da fisiopatologia da doença, as possíveis complicações e os tratamentos mais atualizados disponíveis. Isso tudo aliado a um conhecimento detalhado do paciente.
1.- Dietas e mudança no estilo de vida
2.- Tratamento medicamentoso
Ao diagnosticar o diabetes tipo 2, a maioria dos médicos irá prescrever medicamentos antidiabéticos orais, além de realizar as orientações para mudanças nos hábitos de vida (alimentação e atividade física).
O controle do diabetes muitas vezes só é conseguido com a associação de vários medicamentos cujas ações no organismo se complementam
As medicações orais possuem diferentes mecanismos de ação:
- Aumentam a secreção pancreática de insulina;
- Reduzem a velocidade de absorção da glicose;
- Diminuem a produção de glicose pelo fígado;
- Aumentam a utilização da glicose pelos tecidos periféricos;
- Aumentam a liberação de insulina em resposta ao aumento dos níveis sanguíneos de glicose + redução da velocidade do esvaziamento gástrico + redução da secreção de glucagon (hormônio que aumenta a glicemia);
- Análogos do GLP-1, substâncias que agem no pâncreas melhorando a secreção de insulina e controlando a secreção do glucagon (uso injetável).
- Insulina
Os pacientes com diabetes tipo 1 precisam usar insulina desde o seu diagnóstico, já que a doença se caracteriza por falência das células beta-pancreáticas, produtoras de insulina.
Para os pacientes com diabetes tipo 2 o uso da insulina está indicado quando o tratamento oral não é efetivo. É importante que o uso da insulina não seja adiado e que se inicie precocemente quando o controle do diabetes não estiver adequado com as mudanças de estilo de vida e com os hipoglicemiantes orais.
É importante lembrar que a pode prevenir muitas das complicações crônicas do diabetes. Sua aplicação tem se tornado cada vez mais prática e confortável com a evolução dos sistemas de aplicação e com as novas insulinas disponíveis no mercado.
Recomenda-se o acompanhamento médico com o endocrinologista para avaliação dos sintomas e dos exames laboratoriais. O intervalo entre as consultas será determinado pelo endocrinologista de acordo com a situação de cada paciente.
A avaliação do controle glicêmico é feita através dos testes de glicemia, que refletem o nível glicêmico no momento exato que foram realizados, e da hemoglobina glicada (HbA1c) que revela a média das glicemias dos últimos 3 a 4 meses.
O controle da glicemia reduz de maneira significativa as complicações do diabetes mellitus (DM).
Metas laboratoriais para o tratamento do diabetes tipo 2
Testes de Glicemia
Os testes de glicemia podem ser realizados por exames laboratoriais ou pelo automonitoramento domiciliar (glicemia capilar).
O que é e qual a importância do automonitoramento domiciliar (AMCG)?
O AMCG é efetuado com a inserção de uma gota de sangue capilar em uma fita descartável que é inserida em um aparelho próprio chamado glicosímetro. A faixa de medição vai de 10 a 600mg/dl (dependendo da marca do monitor).
Tem-se desenvolvido também diversos tipos de sensores de glicose não invasivos, sem utilização do sangue capilar. Outros tipos são sensores com nanopartículas em tatuagens, sensores para medir a glicemia nos olhos, como lentes de contato, sensores de respiração, entre outros.
É bastante útil para avaliação do controle glicêmico e possibilita que os próprios pacientes identifiquem a glicemia em diversos momentos do dia e corrijam rapidamente picos hipo ou hiperglicêmicos. Além disso ajuda o paciente a entender o efeito dos diversos alimentos, do estresse, das emoções e dos exercícios sobre a glicemia.
A automonitorização deve ser realizada antes de dirigir e de praticar atividades físicas.
Os resultados podem ser úteis na prevenção de hipoglicemia (baixa glicose no sangue), na detecção de hipo ou hiperglicemias sem sintomas e no ajuste do tratamento, tanto nos casos de DM1 quanto nos de DM2.
Quantas vezes devo realizar o teste de glicemia capilar?
A frequência recomendada deve ser definida pelo endocrinologista, de acordo com as necessidades individuais e metas de cada paciente.
O que é o monitoramento contínuo da glicose (MCG)?
Neste caso é implantado um sensor no tecido subcutâneo que transmite informações a uma aparelho monitor, as quais podem ser transferidas a um computador. Esse método possibilita a medicação contínua da glicose no líquido intersticial. É um perfil glicêmico completo, realizado para identificar alterações significativas das flutuações glicêmicas ocorridas durante 24h do dia e deve ser realizada em pacientes com diabetes tipo 1 ou 2, somente em situações especiais definidas pelo endocrinologista (troca de insulina, ajuste da dose de insulina, avaliação de resposta a um agente andiabético, alterações de CHO na dieta, avaliação do impacto de mudanças de estilo de vida, diabetes gestacional, diabetes em crianças, pacientes em UTI, diagnóstico e prevenção e hipoglicemias noturnas assintomática ou pós-prandial)
O que é a hemoglobina glicada?
É a hemoglobina (proteína encontrada dentro das células vermelhas do sangue, responsável pelo transporte de oxigênio para os tecidos corporais) ligada à glicose. A quantidade de glicose ligada à hemoglobina é diretamente proporcional à concentração média de glicose no sangue. Uma vez que os eritrócitos (células vermelhas do sangue onde se encontra a hemoglobina) têm um tempo de vida médio de 120 dias, a medida da quantidade de glicose ligada à hemoglobina pode fornecer uma avaliação do controle glicêmico médio no período de 60 a 120 dias antes do exame. Este é o objetivo dos exames de hemoglobina glicada, sendo mais frequente a avaliação da fração A1c (fração que está efetivamente relacionada com risco cardiovascular).
Com qual frequência devo realizar a dosagem de HbA1c?
A dosagem da HbA1c deve ser realizada ao menos duas vezes por ano nos pacientes com diabetes controlado e a cada 3 meses nos pacientes submetidos a alguma alteração do tratamento ou que não estão com a doença sob controle.
A maioria dos pacientes não gestantes deve ficar com a HbA1c < 7,0%, pois mostrou-se que este valor reduz complicações.
Para pessoas com diabetes de início recente, com longa expectativa de vida, sem doenças cardiovasculares e com pouco risco de hipoglicemias a meta pode ser mais rígida, com Hba1c desejável < 6,5%
Ao contrário, pacientes com expectativa de vida mais curta, riscos maiores de hipoglicemias, problemas cardiovasculares, diabetes de longa duração, insulinizados e com complicações crônicas do dabetes podem ficar com a hemoglobina glicada menor que 8,5% ou 8,0%.
A hemoglobina glicada pode ser usada para o diagnóstico da doença?
A hemoglobina glicada tem sido estudada como critério diagnóstico para o Diabetes mellitus. As recomendações da ADA (associação americana de Diabetes) são:
Diabetes: HbA1c ≥6,5% (deve ser confirmada em outra coleta), a não ser na presença de sintomas característicos ou glicemia ≥ 200mg/dl
Indivíduos com alto risco para desenvolver diabetes: HbA1c entre 5,7 e 6,4%
No decorrer dos anos ou décadas, a hiperglicemia (nível elevado de açúcar no sangue) prolongada promove o desenvolvimento de lesões orgânicas que afetam os olhos, os rins, os nervos, os vasos sanguíneos grandes e pequenos, assim como a coagulação sanguínea
As principais complicações do diabetes podem ser divididas em dois grupos:
- Microvasculares (que afetam pequenos vasos e capilares): podem levar a alterações nos rins (nefropatia), nos olhos (retinopatia), e nos nervos periféricos (neuropatia).
- Macrovasculares (que afetam as artérias mais calibrosas): são as doenças cardiovasculares, como o infarto do miocárdio (IAM), o acidente vascular cerebral (AVC) e as gangrenas periféricas.
A investigação e o monitoramento e destas complicações devem ser realizados periodicamente. Estas complicações podem ser evitadas, ou pelo menos minimizadas, com um bom controle dos níveis glicêmicos.